15/07/09

Billabong Pro Jeffrey's Bay - o resumo

Se até ao momento do ano competitivo no WCT, houve um evento, aliás, O evento, foi este que acabou hoje em J-Bay. Houve de tudo ! Desde notas 10 justificadas a 10 injustificados, surfistas a partir tudo e surfistas que nem se percebe como estão no WCT, dois Clash of the Icons, wildcards, altas ondas e ondas menos boas, grandes derrotas e grandes vitórias, consagrações e "enterros", goofys e regulares, erros e golpes de sorte, tudo !

Após alguns dias de lay-day, o round 1 começou com boas ondas e no novo formato de heats. Um dos problemas deste novo formato, tournou-se óbvio neste mesmo round : os top 16 ao terem o seeding directo para o round 2 e, portanto, não surfarem no round 1, tornam a maior parte dos heats deste round desinteressantes, o que vai resultar em menos gente online para ver o webcast e menos gente na praia. Os destaques deste round vão para Nic Muscroft da Austrália que com um 15.17 eliminou o também australiano Josh Kerr com um 9.37. Destacou-se também o mais forte candidato a Rookie Of the Year deste ano e também o rookie mais bem posicionado nos ratings do WCT, o havaino Kekoa Bacalso que com um 15.83 eliminou o local Ryan Payne que fez 11.00, se bem que vinha a surfar muito bem dos trials. Contudo, o melhor heat foi o que opôs Sean Holmes, um dos melhores do Mundo em J-Bay e local de lá e que este ano "regressou" ao evento, e o powerhouse havaino Dustin Barca. Bonitos tubos, bonitas linhas e poderosos hacks marcaram este heat mas foi a experiência que levou a melhor e o sul africano eliminou o havaino com um 15.93 vs 14.50. O round 2, foi épico e um "shocker" para diversos surfistas.Os dois primeiros heats do round 2 foram realizados logo no mesmo dia do round 1 pelo que não beneficiaram das ondas perfeitas de 2/2.5 m que os outros heats tiveram no dia seguinte. Este round 2 prometia embates espectaculares : Taj Burrow vs Sean Holmes , Michel Bourez vs Mick Fanning, Jordy Smith vs Dane Reynolds. Prometia e cumpriu. O primeiro "shocker" do dia foi para Taj Burrow que foi atropelado por um fenomenal Sean Holmes, tal como os scores deste heat mostram : 18.60 vs 9.33. O heat Michel Bourez vs Mick Fanning foi a surpresa do round ! Quando muitos esperavam a vitória do australiano, mais um "shocker" o "espartanto" elevou o seu surf a um nível superior ao do Campeão do Mundo de 2007, fazendo uma onda nota 10 em que fez três espectaculares tubos intervalados por hacks mesmo no pocket e ainda uma nota 8.27. Porém, seria injusto não falar no heat que Mick Fanning fez. "White Lighntning" surfou o seu melhor, desenhando das mais bonitas linhas que se veêm actualmente em J-Bay, fazendo um score de 17.27 que seria suficiente para vencer outros onze heats (!!!!) do round onde surfou. De facto, Mick teve mesmo o 5º melhor score da ronda. Parece impossível mas é a verdade e Mick reconheceu-o, apertando a mão de Michel Bourez no final do heat de ambos, em jeito de reconhecendo a derrota. Talvez o mais esperado heat da ronda, Jordy (o preferido da praia) versus Dane (o prodígio americano), foi um heat brilhante. Jordy fez uma onda de 8.5 e uma de 5.4 que lhe valeu um score de 13.9 e Dane, não querendo ficando atrás, fez um 10 (fenomenal, manobras mais tubos e ainda mais manobras) e um 7.83, que lhe valeram a vitória. É ainda preciso destacar dois heats deste round 2 : Kelly Slater versus Nic Muscroft e Greg Emslie versus Bede Durbidge. No primeiro, Kelly Slater fez de tudo, só não teve mesmo foi um 10. Fez quatro notas de 9 pontos : 9.00, 9.23, 9.27 e 9.57. Sim, tudo no mesmo heat. Perante um desencontrado, atropleado, dizimado Nic Muscroft que se ficou por um score de 9.34. Sem hipótese. O outro heat, Bede Durbidge versus Greg Emslie, não viu notas tão altas como as de Slater mas viu, também, boas ondas que se reflectem nos scores dos dois surfistas : 17.5o para o aussie e 16.00 para o "bru". O round 2 teve mesmo 6 dos 10 melhores "heat totals" do evento e 5 das melhores ondas do evento. Foi cá um round, han ? Outra das grandes derrotas deste round foi Mineirinho que cedeu perante um finalmente em forma Nathaniel Curran.
Grande parte do round 3 também se realizou no mesmo dia do round 2 (portanto, ontem dia 14) e felizmente para nós, também beneficiou das altas ondas que rebentaram naquele mítico pointbreak. Neste round 3 vieram ainda mais surpresas e desilusões. A começar as desilusões, logo no heat 1, num heat de surfistas de pé direito à frente, a eliminação de C.J Hobgood às mãos (e pés) de Kai Otton que se revelou como um dos surfistas do campeonato, 14.60 vs 10.17. No heat 2, show do australiano Dean Morrison, claramente um sufista de pointbreaks, que com a sua barba à "mountain man" (diziam os comentadores do webcast...) eliminou o carrasco de Mineirinho, Nathaniel Curran, com um score de 17.63 vs 11.57. É de salientar uma das brilhantes ondas de Dean Morrison que foi avaliada com um 9.63. No heat a seguir, Bobby Martinez com um 15.00 despachou Ben Dunn com um 12.5, surfista que no primeiro round tinha eliminado Tiago Pires. Logo a seguir, Parko que já se vinha afirmando como o surfista mais em forma deste campeonato, fez um score de 18.50 para eliminar Kieran Perrow com um 12.33. Para tal, Parko fez um 8.50 e um 10, o terceiro do evento. A meu ver, este 10 tem muito que se lhe diga. Parko vê a onda de set espectacular, põe-se em pé, bottom curto, ataca o lip, volta à onda rapidamente e entra dentro de um tubo fenomenal do qual ninguém esperava que ele saísse mas alguns segundos mais tarde ele sai voando do tubo e com um "claim" sai da onda. Agora vocês dizem : "Fogo, foi um 10!!!". Em outras ondas, talvez fosse, sim. Mas em J-Bay, não deveria ser. Passo a explicar : o critério de avaliação das ondas em J-Bay define claramente que os juízes procuram, entre outras coisas, leitura de onda e aproveitamento desta. Não há duvida que o Parko soube ler a onda, alcançando o mítico tubo, contudo, o aproveitamento da onda, foi pouco mais que suficiente. A seguir ao tubo, Joel Parkinson tinha uma parede enorme, bonita, muito manobrável e apelativa, que podia ter aproveitado. O que aconteceria se o australiano a seguir tivesse dado mais três tubos e o maior aéreo de sempre em competição (tal como diz Lewis Samuels no link do post em baixo) ? Era uma onda superior a 10 ? Não, não existe nada superior a 10. Então o que seria ? É uma boa questão não é ? Era uma onda ainda mais perfeita ? A mim parece-me que os juízes antes de dar uma nota ao Parko, já tinha sempre os dedinhos encostados, no mínimo, ao 9. O que acham ? No heat a seguir ao de Parko, o favorito local Sean Holmes eliminou Mick Campbell, Dane Reynolds tratou de despachar o "carrasco" de Fanno, Michel Bourez. Logo a seguir, mais uma surpresa deste round, Taylor Knox que mesmo com o seu parco jeito para estar num heat, eliminou Kelly Slater. Aliás, demoliu com jeitinho, 12.57 do Capitão América vs 6.04 do "The Hell". É verdade que Slater, depois de T.Knox fazer um 8, não teve ondas para surfar a sério mas mesmo assim.. Após a derrota da ronda, ainda houve tempo para o "mano" de C.J, Damien Hobgood despachar 0 "bom gigante" Bede Durbidge. É importante referir que estes três últimos heats do Round 3 (Dane vs Bourez, Slater vs T.Knox, Damien vs Bede), já só decorreram durante o último dia da competição (ou seja, hoje, dia 15) que contou com ondas limpas de 3 a 5 pés.
Os quartos, trouxeram ainda mais show ao evento. No primeiro heat, uma surpresa, Kai Otton ganhou o heat das barbas (ambos os surfistas tinham a cara "decorada" com uma vasta barba) contra Dean Morrison que vinha realizar um bom campeonato, tal como o "Otto". Mas no final, o goofy que parece ter aprendido umas coisas com Occy, não deu hipótese ao Coolie Kid e despachou-o : 16.17 vs 10.83. Kai Otton vinha a fazer um bom campeonato, fazendo ondas que conciliavam bons tubos com boas manobras. No segundo heat dos quartos, Bobby Martinez versus Joel Parko, o australiano voltou a aplicar o seu surf da melhor maneira, vencendo o sem main sponsor "chicano" por 15.66 vs 10.83. No terceiro heat, talvez aquele que os espectadores na praia mas ansiavam, Dane Reynolds versus Sean Holmes. Infelizmente, para os espectadores, o seu "rapaz" não repetiu o tipo de ondas que vinha a fazer até ali e cedeu perante Reynolds que, na sua primeira onda, fez um 10 (!!!!) que pareceu desconcentrar Holmes. Mas Dane tinha ainda mais para dar e na sua quinta e última onda, fez um 9.2, numa onda em que fez manobras espectaculares, nomeadamente, um gigantesco "tail waft" à lá Ry Craike (segundo o próprio Dane), conseguindo, assim, o melhor score do evento, o que lhe valeu um relógio Nixon avaliado em 10.000 usd (U.S. Dolars). No heat de americanos que sucedeu ao de Dane, Damien Hobgood eliminou à justa o Capitão América, 14. 73 vs 14.30. Estava o espectáculo lançado para as meias finais, dois heats goofy versus regular, aussie vs aussie, americano vs americano : Parko vs Kai e Dane vs Damien. No primeiro heat, o surfista do campeonato versus o surfista darkhorse/underdog do campeoanto. No segundo heat, o sufista mais espectacular do campeonato versus o outro darkhorse/underdog do campeonato. No primerio, Parko teve que surfar muito para eliminar um irreverente Kai Otton. Parko começou o heat em grande forma, fazendo a sua segunda onda 10 do evento ao que Kai respondeu com um 9.8 (que, aliás, deveria ter sido um 10), a sua melhor onda do campeonato. Parko fez depois um 7.83 que perante o 6.67 de Otto lhe garantiu a vitória. Resultado do heat 17.83 vs 16.47. Na segunda meia final, Damien eliminou Dane, tal como tinha eliminado Taylor Knox nos quartos, à justinha. Tão à justa que foi apenas na última onda nos últimos segundos do heats e após uma onda de Dane que tinha aumentado a distância deste para Damien. Os scores foram : 13.73 vs 13. 67.

A final, juntava assim, dois surfistas que vinham a surfar bem durante todo o evento e que garantiam espectáculo. Um pormenor interessante sobre esta final, é que ambos os surfistas já tinham chegado a esta em anos anteriores : Damien em 2003 quando perdeu para Slater e Parko em 1999 onde, com apenas 18 anos, eliminou Ross Williams. Na final deste ano de 2009, o vencedor foi Joel Parkinson que abriu logo as hostilidades, fazendo um 9.47 na sua primeira onda. Damien respondeu mais tarde com um 5.67 (que a meu ver podia ter sido um score um pouco maior, lá para os 7 pontos). Ao 9.47, Parko juntou um 6.57, compondo assim o seu score final de 15.97. Damien, novamente nos derradeiros segundos do heat e a precisar de um 9.70 para vencer o heat, fez um 6.27 e teve que se contentar com um segundo lugar neste evento. Com esta vitória, Parko reforçou ainda mais a liderança do ranking do WCT e já nada parece poder pará-lo (embora Slater tenha dito que para ele próprio ter uma chance ainda teria que ganhar os próximos três eventos, acrescentando um peculiar desafio a ele próprio "We shall see").
O Top 10, após este evento, está do seguinte modo : 1 – Joel Parkinson (AUS) 5076 pts2 – C.J. Hobgood (USA) 3672 pts3 – Adriano de Souza (BRA) 3613 pts4 – Taj Burrow (AUS) 3460 pts5 – Damien Hobgood (USA) 3374 pts6 – Bobby Martinez (USA) 3357 pts7 – Mick Fanning (AUS) 3350 pts8 – Kelly Slater (USA) 3030 pts9 – Tom Whitaker (AUS) 2942 pts10 – Jordy Smith (ZAF) 2896 pts

Em baixo, o link para os vídeos do evento que valem muito a pena ver !

http://www.billabongpro.com/jbay09/videos.php?rLingua=gb&rDay=4

P.S. Abstive-me de comentar os resultados do Marlon Lipke e do Tiago Pires porque foram desastrosos, principalmente no caso deste último.



(em cima, Parko a caminho da vitória e a celebrar o seu resultado com Damien Hobgood. Ambas as imagens, ASP/Getty Images).

Post por Diogo Alpendre. Também pode ser visto em www.linhadeonda.blogspot.com

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